Reconhecimento facial em condomínios: avanço tecnológico sem segurança e sem porteiros

A tecnologia do reconhecimento facial está se espalhando rapidamente pelos prédios residenciais no Brasil, mas levanta sérias preocupações sobre segurança, privacidade e a ausência de uma figura fundamental: o porteiro.

Segundo a reportagem do G1, cerca de 1 milhão de condomínios já utilizam o sistema de reconhecimento facial para liberar o acesso de moradores e visitantes. O problema? Essa adoção em massa acontece sem regulamentação clara, sem fiscalização ativa e com pouca transparência sobre o uso e a guarda dos dados sensíveis.

Falta de controle e riscos graves

As empresas responsáveis por armazenar os dados biométricos — que incluem imagem facial, CPF, número do apartamento e histórico de acesso — não são obrigadas a prestar contas sobre o que fazem com essas informações. Em muitos casos, nem mesmo o síndico tem acesso a relatórios técnicos que comprovem a exclusão ou proteção adequada dos dados.

O resultado disso é alarmante: casos de vazamento, uso indevido e fraudes já ocorreram, como o uso de imagens de moradores para aplicar golpes em nome de terceiros. Além disso, muitos sistemas operam em nível de segurança básico, o que facilita erros e acessos indevidos, como pessoas parecidas liberando o portão automaticamente.

O que a lei garante, mas quase ninguém cumpre

De acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), o morador tem direito a:

  • Saber quem trata seus dados;
  • Ser informado sobre a finalidade e o tempo de armazenamento;
  • Ser avisado previamente sobre a coleta;
  • Ter acesso à política de privacidade;
  • Exigir a exclusão dos dados ao sair do prédio.

Porém, a matéria mostra que, na prática, quase nenhum desses direitos é respeitado. Muitos moradores nem sabem que podem se recusar a fornecer a biometria, e os pedidos de exclusão costumam ser feitos por WhatsApp, sem comprovante.

O porteiro continua essencial

Ao substituir o porteiro por um sistema automatizado, os condomínios perdem mais do que uma figura tradicional — perdem segurança de verdade. O porteiro humano:

  • Verifica identidades com atenção e bom senso;
  • Percebe comportamentos suspeitos;
  • Informa moradores sobre riscos ou situações inusitadas;
  • Atua imediatamente em caso de emergência.

A tecnologia, sozinha, não possui critério, empatia nem discernimento. Além disso, como mostrou o G1, a falta de clareza sobre quem armazena os dados, como e por quanto tempo, expõe os moradores a riscos graves, inclusive legais.

Conclusão: sem porteiro e sem transparência, a segurança é ilusória

O reconhecimento facial pode parecer moderno, mas sem controle, vira fachada para vulnerabilidades. É urgente que os condomínios:

  • Garantam alternativas ao reconhecimento facial;
  • Apresentem relatórios periódicos;
  • Escolham fornecedores com responsabilidade;
  • E, acima de tudo, valorizem a presença do porteiro, que ainda é o elo mais seguro e confiável entre o prédio e o mundo externo.

Tecnologia sem segurança e sem humano por perto é um convite ao risco.

 

Fonte: G1 – Tecnologia